Mais um dia que se passou desde que cheguei. O tempo passa incrivelmente rápido, e hoje faz 2 meses que aqui estou mas lembro-me perfeitamente de chegar. Da viagem de avião com a Toscano com peso a mais e a Sofia a passar-se com toda e qualquer turbulência. Lembro-me de chegar a Roma e do nada estarmos sempre a falar Inglês. Lembro-me da confusão de malas que estava na sala, dos 500 estudantes que estavam ali para começar uma vida nova. Lembro-me do discurso que ouvimos na cerimónia, de berrar quando chamaram Portugal. Lembro-me de cantar os parabéns ao Bart, ao Tomás e aos outros estrangeiros, em coro com meio milhar de jovens. De conhecer o Arturo pessoalmente.
Lembro-me de estar no quarto a despedir-me da Toscano ainda com shampoo na cabeça porque estava a meio do meu duche. De fazer uma luta de almofadas com a Sofia antes de deixarmos o quarto, só porque sim. Lembro-me de me despedir dela lá no Fraterno Domus. E de voltar a vê-la na estação de comboios de Roma, onde veio a correr direta a mim para uma última despedida. Lembro-me de estar rodeada de pessoas que iam para Emilia Romagna como eu, mas de me sentir sozinha. De ser a única portuguesa e não ter coragem de falar com a brasileira que estava com os outros da América do Sul. Lembro-me de olhar para o Cedric e, mesmo depois de termos falado tanto pelo facebook sobre irmos para Itália, depois de termos descoberto que íamos ser do mesmo local chapter e depois de termos partilhado tantas histórias através do chat, de nenhum de nós ter a coragem de ir ter com o outro.
E depois lembro-me da minha viagem de comboio. A viagem mais inesquecível de sempre. Três estrangeiros (belga, argentino e portuguesa) que, sem saber uma palavra de italiano, vieram à conversa com uma família italiana durante 5 horas. Lembro-me de entrar nessa carruagem acompanhada desses dois exchange students desconhecidos, e de sair amiga deles. Lembro-me de alguém dizer "Reggio Emilia, vocês saem agora" e de, no meio de outra confusão de malas, dizer à Cille "This is it".
Lembro-me do meu medo de não reconhecer a família ou de eles não me reconhecerem. Ou de eles não estarem lá. Mas lembro (tão bem tão bem) do grande sorriso que me fizeram quando desci do comboio. De como queria ir ter com eles, mas a minha mala estava no comboio. De como me senti cheia.
E logo depois foi a fase jardim zoológico. Lembro-me de estarmos os seis juntos, com um sorriso já mecanizado, enquanto éramos iluminados por milhares de flash's. De como nos sentimos animais presos numa jaula a ser visitados por turistas.
Lembro-me de tudo isto como se tivesse sido ontem, mas a verdade é que já falta menos de um mês para voltar. A verdade é que criei com estes 5 estrangeiros as amizades mais fortes que alguma vez vou conseguir ter. Que entretanto tenho uma outra família. Que agora falo italiano. A verdade é que agora já não me quero ir embora.
Mas a verdade é que, mesmo que fosse embora agora, já tinha valido a pena.
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